Homosexualidade, de Frank O’ Hara.
HOMOSSEXUALIDADE
então estamos tirando nossas máscaras, nós estamos, mantendo
nossas bocas fechadas? como se tivéssemos sido atravessados de relance
o som de uma vaca velha não é mais cheio de julgamento
que os vapores que escapam da alma quando estamos doentes
então empurro as sombras à minha volta como um sopro
e enrugo meus olhos como se no mais requintado momento
de uma ópera muito longa e, então, estamos desligados?
sem reaproximação e sem esperanças de que nossos pés delicados
tocarão a terra novamente, menos ainda, “muito em breve”
é a lei de minha própria voz que eu devo investigar
começo como gelo, do meu dedo ao meu ouvido, do meu ouvido
ao meu coração, aquele orgulhoso vira-lata na lata de lixo
na chuva, é maravilhoso admirar a si mesmo
com completa candura, registrando os méritos de cada uma
das latrinas. A 14ª quinta rua está bêbada e crédula
a 53ª hesita mas está muito em repouso. Os bons
amam o parque e, os ineptos, a estação de trem
e há os divinos que se arrastam para cima
e para baixo no prolongamento das sombras de uma cabeça Abissíniana
na poeira, rastreando seus longos elegantes saltos de ar quente
chorando para confundir os bravos “É um dia de verão,
e eu quero ser desejado mais do que qualquer coisa neste mundo”
Tradução: Fernando Impagliazzo
HOMOSEXUALITY
so we are taking off our masks, are we, keeping
our mouths shut? as if we’d been pierced by a glance!
the song of an old cow is not more full of judgment
than the vapors which escape one’s soul when one is sick;
so I pull the shadows around me like a puff
and crinckle my eyes as if at the most exquisite moment
of a very long opera, and then we are off?
without reaproach and without hope that our delicate feet
will touch the earth again, let alone ”very soon“
It is law of my own voice I shall investigate
I start like ice, my fingers to my ear, my ear
to my heart, that proud cur at the garbage can
in the rain, it’s wonderful to admire oneself
with complete candor, tallying up the merits of each
of latrines. 14th street is drunken and credulous,
53rd tries to tremble but its too at rest. The good
loves a park and the inpet a railway station
and there are the divine ones who drag themselves up
and down, the lengthening shadow of an Abyssinian head
in the dust trailing their long elegant heels of hot air
crying to confuse the brave “it’s a summer day
and I want to be wanted more than anything else in the world.”
Frank O’ Hara. Dos manuscritos do autor.
Março de 1954, intitulado 5.
Havia um Self-portrait with Masks de James Ensor anexado ao poema.
Em manuscritos tardios já recebe título similar (“The Homosexuals”) e é numerado “I”
Primeiramente publicado em Poetry, de 1970.